IPATINGA - A maioria dos motoristas que passa por Ipatinga pela BR-381, na altura do Shopping Vale do Aço, não imagina que o lugar já foi cenário de um dos fatos mais trágicos da história mineira. Bem às margens da rodovia, ficava em 1963 a portaria principal da usina siderúrgica da Usiminas – na época empresa estatal –, onde um confronto entre policiais militares e operários deixou mais de 120 trabalhadores feridos e um número de mortos que até hoje não foi esclarecido. Prestes a completar 52 anos, em 7 de outubro, a tragédia que ficou conhecida como Massacre de Ipatinga ainda é motivo de tristeza para os que estiveram no local e viveram uma das primeiras demonstrações da repressão que viria a se espalhar pelo país seis meses depois com o golpe militar.
PERSEGUIÇÃO
Para o ex-operador da Usiminas Raimundo Pereira Chaves, de 71 anos, conhecido em Ipatinga como Serrinha, o massacre foi um prenúncio das décadas de repressão que iriam mudar completamente sua vida ao longo da ditadura militar. Funcionário da usina, ele presenciou o tumulto e os desdobramentos na rotina da cidade. Incomodado com as difíceis condições de trabalho a que os operários eram sujeitados, Serrinha participou das mobilizações de 1963 e passou a ser acompanhado de perto depois do golpe de 1964.
Segundo ele, a estatal funcionava como um braço do regime e os funcionários ligados a grupos de esquerda que se mostravam críticos do governo passaram a ser reprimidos. “Os vigilantes da empresa eram na maioria policiais militares que nos monitoravam o tempo inteiro. Além das revistas na entrada e na saída do expediente, eles passaram a saber o que alguns funcionários faziam 24 horas por dia. As estatais passaram a funcionar como braço da ditadura e desconfio que algumas informações sobre líderes chegaram até Brasília, onde eram pedidas demissões ou até prisões”, lembra.
Depois de demitido da estatal, Serrinha não conseguiu mais achar emprego nas empresas que prestavam serviços para a siderúrgica e passou a conviver com ameaças de prisão e intimidações. “Foram dois anos me escondendo na minha própria cidade, sem poder trabalhar e passando dificuldade para sustentar três filhos. Em 1967 tive que ir embora, ou seria preso. Entre os operários a luta era pela sobrevivência e pouco se falava sobre o massacre, mesmo com todos sabendo que foram dezenas de mortos e vários desaparecidos.”
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VÍDEO: JOSÉ DEUSDETH CHAVES. José Deusdeth era líder sindical nos anos após o massacre, afirma que a origem do evento foi "a repressão da Usiminas em cima de todos os trabalhadore. O corpo de vigilantes, todo paramilitar, que prendia trabalhadores lá dentro, torturava e mandava para a polícia, onde eram torturados outra vez", relatou.
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