IPATINGA - Depois de uma enxurrada de denúncias sobre venda de carteiras de habilitação e de irregularidades envolvendo documentos vindos do Paraguai e ainda fraudes envolvendo o funcionamento de clínicas de avaliação médica e psicotécnica, o Departamento de Trânsito de Minas Gerais (Detran-MG) é alvo de uma nova denúncia. Agora, a suspeita é que habilitações norte-americanas falsas estão sendo convertidas em CNHs brasileiras legais.

Os indícios sobre o esquema se fortaleceram na semana passada quando a Polícia Rodoviária Federal (RPF) prendeu dois homens acusados de envolvimento no esquema. Um deles, identificado como Hermelindo Dias Santos, seria irmão da dona de uma autoescola de Ipatinga, no Vale do Aço, que passou a ser alvo de investigação. O outro detido é Jurandir Barbosa. Ambos foram flagrados em João Monlevade, região Central do Estado, durante um patrulhamento de rotina.

Com os dois foram encontrados 16 registros nacionais de carteira de habilitação (Renachs). Esses formulários são de uso interno e exclusivo do Detran para o requerimento da habilitação, o que, para a polícia, reforça a suspeita de envolvimento de servidores do órgão no crime. Os documentos apreendidos já estavam preenchidos com os dados e fotos das pessoas que supostamente pretendiam validar as carteiras falsas.

Segundo a assessoria de imprensa da Polícia Civil, a corregedoria da instituição desconhece o envolvimento de funcionários com o esquema. Ainda de acordo com a assessoria do órgão, uma apuração sobre todas as denúncias envolvendo o órgão de trânsito está em curso, mas nada ainda foi concluído.

Segundo o delegado Edimar Paula da Silva, os dois homens foram autuados em flagrante por falsificação de documentos públicos e falsidade ideológica. "O Jurandir já tem passagem pela polícia por falsificação de carteiras. O Hermelindo nega que o material seria para a comercialização das carteiras. Segundo o Hermelindo, sua irmã tem uma autoescola em Ipatinga e esse material seria da empresa dela", disse.

A polícia encontrou com os dois uma impressora, fotos 3x4, um passaporte, cópia de vários documentos e comprovantes de endereço, além de uma carteira de habilitação da Filadélfia. Uma fonte ouvida ontem por O TEMPO revelou que o esquema conta com a participação de funcionários do Detran-MG. A irregularidade teria origem em Governador Valadares, no Vale do Rio Doce, onde as carteiras de habilitação norte-americanas e o passaporte dos interessados seriam falsificados. A partir daí, os documentos falsos seriam levados à sede do Detran da capital de Belo Horizonte, onde um funcionário do órgão que participaria do esquema validaria a conversão. Segundo a fonte, os servidores cobrariam até R$ 700 para converter cada carteira falsa dos EUA em documentos brasileiros autênticos.

SAIBA MAIS

- O Brasil aceita a conversão de carteiras internacionais em duas situações: quando uma pessoa irá passar pouco tempo no país e no caso de pessoas que irão se estabelecer no país.

- No primeiro caso, é concedida uma licença temporária de 180 dias.

- No segundo, é preciso visto permanente, passaporte, foto, CPF, comprovante de endereço e é necessário passar por exame psicológico e médico.

- Nas duas situações, o candidato deve apresentar ao Detran uma tradução juramentada da carteira estrangeira.


Fonte: O Tempo