A VINDA PARA O BRASIL
Era uma família de pai, mãe e seis irmãos (duas moças), o mais velho com dezessete anos e a mais nova com dois anos. Natsuo era o quarto filho, com nove anos. O pai vendeu dois alqueires de terras cultivadas de arroz, que possuía no Japão, para ser possível a imigração (naquela época quem tinha dois alqueires de terra no Japão, não arriscava a imigração), mas o velho Ezaki tinha tanta esperança na nova terra que não teve dúvidas em arriscar. A propaganda que veiculava na terra do Sol Nascente, naquela época, pró-imigração, dizia maravilhas de uma terra muito promissora chamada Brasil.
Foi assim que a família Ezaki, deixou a cidade de Kurume, do estado de Fukuoka, ao sul da principal ilha (Kiushu) do arquipélago japonês para embarcar no dia 20 de outubro de 1935, no navio La Plata, com destino ao paraíso chamado Brasil, junto a muitos outros imigrantes japoneses. Após dois meses de viagem chegaram ao Brasil no dia 30 de dezembro de 1935, quando surgiu o primeiro problema: o número de imigrantes para aquele ano tinha se esgotado e nem todos poderiam desembarcar. Junto aos que não puderam, a família Ezaki seguiu viagem até a Argentina e acabaram passando o réveillon daquele ano em pleno mar.
De volta ao Brasil, foram os primeiros imigrantes a desembarcarem no ano de 1936, em terras brasileiras. Chegando, a família seguiu para Cerqueira Cesar (SP), onde começaram a trabalhar duro na lavoura de café: o sonho de um Brasil cheio de coisas fáceis e boa vida foi rapidamente desfeito, o jeito era mesmo trabalhar muito.
Para sair de Cerqueira César o pai teve que pagar uma multa de rescisão de contrato.
Foram para Presidente Prudente onde ficaram oito anos e foi lá que Natsuo passou o resto de sua infância. Na colônia japonesa de Presidente Prudente, trabalhando muito a família conseguiu bastante êxito, pois o trabalho foi tão recompensado, que em apenas um ano (o último) conseguiram juntar 3. 000 contos de réis (muito dinheiro na época). Com esse dinheiro foram para Santo Anastácio trabalhar em lavoura de algodão, onde moraram por quatro anos e onde também as coisas foram péssimas para a família, apesar de todos terem trabalhado muito.
Nesta lavoura levaram muitos prejuízos e acabaram perdendo tudo que tinham conseguido em treze anos de trabalho. Não restou nem mesmo dinheiro para a mudança. Foi aí que apareceu um amigo e se prontificou a levar a mudança de graça.
Com muito otimismo e sem perder a esperança em dias melhores, a família se acotovelou junto a mudança no caminhão e seguiu para a cidade de Flor Paulista, para trabalhar em lavoura de algodão e hortelã. Morando e trabalhando durante quatro anos na agricultura desta cidade, conseguiram recuperar 500 contos de réis. Com esse dinheiro a família partiu para a capital São Paulo, onde montou um posto de gasolina, graças ao trabalho unido de todos, bancando carpinteiros, pedreiros, etc.
Durante cinco anos o posto foi campeão de vendas. Natsuo era o incansável lavador de carros, que por todos os anos de liderança do posto, trabalhou sem parar 16 horas por dia (inclusive aos sábados e domingos), sem ter tirado um dia sequer para descanso.
A clientela aumentava a cada ano, até não ter mais vagas sequer para lavagem de carros.
CASAMENTO A MODA ANTIGA
Em 1955, Natsuo casou-se com Yoca Fujita e com ela teve seis filhos: Otávio, Edson, Sônia, Sueli, Márcio e Schirley. O mais interessante desse casamento, foi que ele praticamente conheceu a noiva no dia do casamento, que foi previamente contratado pelos pais, pois em oito meses, quando foi marcado o enlace, a única conversa que houve entre ele e ela, foi um tímido "boa noite".
A VINDA PARA IPATINGA
Em 1959, um dos irmãos veio visitar a Usiminas, que estava ainda em construção. Conversando com membros da diretoria da empresa esta manifestou o interesse de que alguém montasse aqui um armazém japonês, para que os japoneses que aqui estavam morando não sentissem falta da comida de sua terra natal.
Como o pensamento do irmão era de que a família deveria espalhar suas atividades, deram como recompensa para Natsuo, devido a seu importante trabalho que muito ajudou na sociedade e progresso econômico da família, dois armazéns montados e duas caminhonetes, para que ele começasse sua vida comercial independente. Foi assim que Natsuo veio para Ipatinga no ano de 1960.
Tinha duas mercearias especializadas, dentre outras coisas, em produtos japoneses: uma no bairro Horto e uma no Centro Comercial do Cariru.
Durante todo seu tempo de comerciante em Ipatinga, Natsuo sempre se preocupou em ser útil às pessoas, ser agradável e servir bem. E foi com esse espírito fraterno que conseguiu verdadeiros amigos na região.
Sempre que contratava algum funcionário para trabalhar na mercearia, Natsuo se preocupava com ele, dava conselhos, incentivava nos estudos e sempre dava seu total apoio, tanto que grande parte dos funcionários que por lá passaram - muitos com situação definidas e brilhantes carreiras, sempre lembraram que Natsuo teve participação em suas formações. Um dos primeiros balconistas da loja foi o Sílvio com vinte e um anos e semi-analfabeto. Encorajado pelo patrão ele estudou muito e foi a promotor de justiça e sempre disse que não esqueceu os pequenos conselhos recebidos. Outros funcionários de Natsuo: Vicente (virou empresário), Guilherme (gerente de supermercado), José (funcionário da Usimec e proprietário de imóveis), Bené e Carlos (técnicos da Usiminas) Sakuraoka (intérprete da Usiminas) Baiano (gerente de banco).
CASOS QUE MARCARAM
Um caso marcante na vida de Natsuo, foi o de uma senhora que pedia esmolas no Horto. Primeiro com uma filhinha e depois com três, todas sem roupas, perambulando pelas ruas. Um dia ficou sabendo que ela tinha três barracos de aluguel, no Bom Jardim e o marido aposentado com um pequeno salário, estava doente. Por um dia de esmolas ela conseguia faturar um salário mínimo na época. Sempre que ela ia beber água na mercearia, Natsuo batia um papo com ela, sempre dando conselhos para ela abandonar aquele estilo de vida.
Certo dia, após uma longa conversa, ela agradeceu e disse que ninguém havia explicado para ela daquela maneira e prometeu nunca mais levar aquela vida. Daquele dia em diante nunca mais voltou. Notícias dela, em 1980, revelaram que ela estava muito bem com o marido e as filhas, todas casadas.
Outro caso que marcou, foi o ocorrido em 1962, quando a Usiminas recrutou vários jovens em cidades do interior de São Paulo. Vieram cerca de cem pessoas que inicialmente ficaram agrupadas num acampamento de meia água no Candangolândia (hoje, Amaro Lanari). Como os jovens acharam que o tratamento recebido por eles não foi aquele prometido no recrutamento ficaram revoltados. Parados em frente à mercearia de Natsuo, no Horto, clamavam dos problemas encontrados e falavam firmemente em voltar para suas terras.
Natsuo, achando que estavam muito precipitados, convidou doze deles para dar uma volta de Kombi. Levou-os em todos os setores da usina em construção e montagem, explicando a importância da futura Usiminas na vida de todos e do pais. Após a visita à usina, e uma nova reunião, resolveram ficar. Em pouco tempo eles ganharam outros alojamentos e vários deles a sua própria casa.
Natsuo Ezaki sempre agradeceu o apoio que recebeu aqui, das autoridades, da Usiminas, dos funcionários, dos clientes, amigos e principalmente da esposa e dos filhos.
BUDISTA
Ezaki era budista fervoroso, e sempre lembrava com carinho e gratidão, dos ensinamentos do Buda Nitiren Dayshonin, que foram fundamentais na construção de sua vida e na formação de sua família.
Fonte: Ipatinga Cidade Jardim
VÍDEO: que conta a história da Imigração japonesa para o Brasil. Uma homenagem ao seu Centenário em 2008.
VÍDEO: Centenário da Imigração Japonesa no Brasil.
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