TRAJETÓRIA DO ENGENHEIRO QUE DEIXOU SUA MARCA NA CONSTRUÇÃO DE IPATINGA
Dona Elvira contou um pouco sobre a vida de Márcio, relembrando o curto período que eles viveram juntos na região. “A gente morava em Belo Horizonte quando o Márcio foi convidado pelos engenheiros Amaro Lanari e Luiz Verano para vir para Ipatinga, em 1958, para trabalhar na Usiminas como chefe da Divisão de Transportes. Na empresa, ele atuava como assistente do Amaro Lanari, e eles construíram uma grande amizade. Um ano depois ele foi selecionado para chefiar o Departamento de Construção da Cidade da Usiminas, que hoje é Ipatinga. Como urbanista, o meu marido elaborou um planejamento de urbanização para crescimento ordenado da cidade e construiu casas, hotel, aeroporto, escola e hospital”, enumerou Elvira, salientando que como homenagem, após o falecimento de Márcio, a escola e o hospital receberam seu nome.
Elvira, que estudou cultura francesa em Belo Horizonte, veio com os filhos e o marido para Ipatinga em 1959. No município, eles viviam numa casa de madeira, dentro do alojamento para engenheiros que foi construído no bairro Horto. “Só tinha uma escola na cidade inteira. E o Márcio achava que ela ainda não tinha muita estrutura para os meninos, então eu resolvi voltar para Belo Horizonte, e ele ia nos visitar sempre”, contou.
Entre as muitas mulheres que vieram acompanhar os maridos em Ipatinga, Elvira lembra carinhosamente de Sukihara, “uma japonesa muito simpática que não conseguia falar português”. “Como tinham muitos japoneses em Ipatinga na época, eles traduziam o que ela falava pra gente poder conversar. Era uma situação diferente para mim, hoje eu sinto saudade disso”, recordou.
ACIDENTE
Quase cinco décadas após a morte de Márcio Cunha, Elvira ainda se emociona ao falar do o trágico acidente aéreo ocorrido em 4 de setembro de 1964. “Quando Márcio morreu, eu não quis acreditar que era verdade, ele era muito novo, tinha apenas 39 anos. Não queria estar sozinha na criação dos nossos seis filhos”, lamenta, contando que assistentes sociais lhe deram a triste notícia. “Vieram em minha casa e contaram que ele estava no vôo da Vasp que bateu na Pedra do R, no Pico da Caledônia, em Friburgo, no Rio de Janeiro. Mesmo assim eu tive esperança de que a equipe o encontraria vivo nas buscas, que duraram oito dias”, lembra.
No dia do acidente, o engenheiro Márcio Cunha estava a serviço da Usiminas. Ele retornava do Porto de Tubarão, em Vitória, no Espírito Santo, de onde acompanhou a chegada de uma peça que seria usada na construção do alto-forno da empresa. “Conversamos pela última vez quando ele estava em Governador Valadares, prestes a embarcar para Vitória; No mesmo dia ele verificou a peça e pegou o vôo de volta, que foi fatal” – lamenta Elvira, que apesar de ter ficado viúva aos 32 anos, optou por não ter outros relacionamentos amorosos após o falecimento do marido.
Hoje, Elvira Cunha é avó de quatro netos: André, que é médico, Renato, que está se formando em ciências da computação, Pedro, que fez direito, e Mariana que estuda administração. Ela também tem um bisneto, de sete anos, chamado Rafael, e se diz realizada, por ter “concretizado o sonho de ver os filhos e netos criados, educados, e bem sucedidos”. “Quando meu marido era vivo ele usava sempre uma frase que dizia o seguinte: para os filhos devemos deixar uma boa educação e muito estudo, pois isso ninguém tira. E foi isso que fiz, hoje, os meus seis filhos (Eliana, Marcos, Patrícia, Nelson, Carlos e Márcio) estão criados, e são pessoas de bem”, reforçou, salientando que cada um estudou o que quis dentro das possibilidades da família. “A Eliana fez letras, a Patrícia estudou belas artes, o Nelson fez arquitetura, o Marcos direito, e o Carlos mineração”, conta, orgulhosa.
BIOGRAFIA
Márcio Aguiar Cunha nasceu no dia 08 de dezembro de 1925, em Belo Horizonte. Sendo filho do casal Francisco Assis Cunha e Cecília Aguiar da Cunha. Desde criança, o engenheiro se já demonstrava grande responsabilidade quando ajudava sua mãe na criação de seus oito irmãos. Dona Cecília ficou viúva muito cedo. Márcio Cunha iniciou seus estudos no Grupo Escolar Afonso Pena e fez curso ginasial no Ginásio Mineiro de Belo Horizonte, diplomando-se na Escola de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais, como Engenheiro Civil, Arquitetônico e de Urbanismo, em 1949. No período de 1941 a 1949, Márcio Aguiar da Cunha (ainda estudante de engenharia) já trabalhava na Secretaria de Viação e Obras Públicas no Departamento Nacional de Estradas e Rodagens, DNER, como desenhistas de projetos.
Formou-se aos 24 anos e foi orador de sua turma; subindo de cargo no DNER, foi engenheiro da Seção de Projetos e Estruturas. Através de concurso, ele foi selecionado como engenheiro do Serviço de Aproveitamento do Rio Santo Antônio, durante a construção da Usina Hidrelétrica de Salto Grande. Após o término desta obra, foi engenheiro-chefe da Residência da Baixada (Santos – Cubatão) na construção do oleoduto de Santos, em São Paulo, recebendo, durante a inauguração do mesmo, em 1951, uma placa de Honra ao Mérito. Antes de voltar para sua terra natal, Márcio Cunha foi engenheiro chefe do Departamento de Tráfego do Serviço Municipal de Transportes de Santos. Já em Belo Horizonte, Márcio Cunha trabalhou na construção do Banco do Estado de Minas Gerais, na Praça Sete, sendo o engenheiro responsável pela obra projetada por Oscar Niemayer e executada pela Cia. Mineira de Engenharia. Mais tarde, em 1958, a convite dos engenheiros Amaro Lanari e Luiz Verano, transferiu-se para Usiminas como engenheiro chefe da Divisão de Transportes e engenheiro-assistente do Superintendente Comercial. Em 1959, foi destacado para chefiar o Departamento de Construção da Cidade da Usiminas (Ipatinga).
Márcio Cunha faleceu em 1964, deixando esposa, seis filhos, grandes amigos, e muitos admiradores de seu caráter, talento, simplicidade, inteligência e grandeza da alma.
DESASTRE AÉREO DE 1964 / RJ
Ao decolar do aeroporto dos Guararapes, Recife, na manhã de 4 de setembro de 1964, o Vickers Vicount 701C, prefixo PP-SRR iniciaria o Voo VASP 141 Recife - São Paulo, com escalas em Aracaju, Salvador, Vitória e Rio de Janeiro, transportando 35 passageiros e 4 tripulantes. Após um voo sem ocorrências entre Recife, Aracaju e Salvador, a tripulação do Viscount solicitou mudança de altitude na aerovia V1, nas proximidades de Caravelas, Bahia, de 13 mil pés para 6 mil pés, sem explicar o porque dessa mudança. Porém a mesma não seria efetuada por conta de problemas de comunicação entre o controle de voo de Salvador e a aeronave, que prosseguiria por 13 mil pés até as proximidades de Vitória.
Depois do pouso em Vitória, a aeronave seria revisada e preparada para a próxima escala no Rio de Janeiro. Após a decolagem, o Viscount se elevaria a 6 mil pés e continuaria seguindo pela aerovia V1, onde deveria bloquear os radiofaróis de Campos, Macaé e Rio Bonito até chegar a área do Controle de Aproximação do Rio onde bloquearia o último radiofarol (Quebec), localizado na Ilha dos Ferros para então iniciar os procedimentos de pouso no aeroporto Santos Dumont.
Por motivos ignorados, o Viscount se afastaria cerca de 43 quilômetros da aerovia V1 e sobrevoaria Nova Friburgo ao invés de Rio Bonito, onde por volta das 19h30 min se chocaria contra o lado oeste do Pico da Caledônia. O choque desintegraria o Viscount e mataria todos os seus ocupantes de forma instantânea. O acidente seria comunicado as autoridades várias horas depois, de forma que, as primeiras equipes de resgate chegariam aos local dos destroços na madrugada do dia 5. Ao chegarem ao local encontrariam sinais de saqueamento. A violência do impacto do Viscount com o pico da Caledônia foi tamanha, que apenas oito corpos puderam ser recolhidos, embora estivessem bastante mutilados, enquanto que dos demais restariam apenas restos não identificados.
CONSEQUÊNCIAS
O inquérito sobre o acidente seria prejudicado pelo estado dos destroços, de forma que a causa do acidente nunca seria descoberta. A comissão investigadora chegaria apenas a seguinte conclusão sobre o acidente: Colisão com obstáculo localizado 35 km da direita da rota por razões indeterminadas.
Desde sua chegada ao país, o Viscount sofria problemas para se adaptar ao clima local. Por conta disso, seu rádio-compasso (ADF) vivia sofrendo panes, que poderiam comprometer a navegação e a segurança de voo. Outro indício de que havia um problema de ordem técnica no Viscount foi o fato da tripulação optar por voar a 6 mil pés entre Vitória e o Rio de Janeiro ao invés dos habituais 12 mil pés. O Viscount era uma aeronave pressurizada e podia voar até o teto de 25 mil pés, acima das nuvens e Cumulonimbus que poderiam causar turbulência e até a queda da aeronave. No caso de problemas de pressurização, a aeronave voaria a 6 mil pés para evitar turbulência e Cumulonimbus, desviando-se da rota original. Por conta do mau tempo enfrentado, poderia ter confundido Nova Friburgocom Rio Bonito. No entanto, na falta de evidências (por conta do violento impacto que destruiria completamente a aeronave), essas hipóteses nunca poderiam ser confirmada.
Posteriormente outro desastre aéreo ocorreu no dia 20 de dezembro de 1984, com choque de avião também no Pico da Caledônia, matando todos seus ocupantes, entre eles o jovem zagueiro Figueiredo, do Flamengo.
PICO DA CALEDÔNIA - NOVA FRIBURGO / RJ
O Pico da Caledônia é uma das maiores elevações da Serra do Mar e que fica situado entre as cidades de Nova Friburgo e Cachoeiras de Macacu, na divisa entre os dois municípios, inserido no Parque Estadual dos Três Picos.
Com 2.255 metros de altitude, possui uma das mais belas vistas de Nova Friburgo e de outras localidades próximas podendo-se até visualizar a Baía da Guanabara e uma parte da cidade do Rio de Janeiro, Região Serrana, Grande Rio (São Gonçalo, Niterói, Itaboraí), Baixada Fluminense (Guapimirim, Magé e Nova Iguaçú), Região dos Lagos como Maricá, Araruama, Cabo Frio em dias mais claros. Pela última carta escala 1:25.000 do IBGE, a altitude do Pico da Caledônia foi atualizada, contendo dois cumes de 2.234 metros e 2.255 metros, respectivamente o cume sul e o cume norte, e entre eles se distribuem as torres de telecomunicações. A altitude de 2.219 metros se refere a antiga carta 1:50.000 do IBGE.
Sendo uma das maiores montanhas do estado do Rio de Janeiro e com uma localizacão privilegiada, possui torres de transmissão de rádio, responsáveis pelas comunicações da Petrobrás, possibilitando o envio de dados desde a Bacia de Campos até Brasília sem encontrar nenhuma montanha de maior altitude obstruindo as ondas.Possui também uma rampa de asa delta para prática de vôo livre.
Importante esclarecer que o Pico da Caledônia é aberto para visitação em horários restritos e que o seu acesso é feito através de uma estrada bem íngreme a partir do bairro Cascatinha, em Nova Friburgo.
Devido à sua importância para o meio ambiente, considerando a existência de muitas nascentes de água e a presença de animais silvestres, foi criada no seu entorno uma área de proteção ambiental pelo município de Nova Friburgo, conhecida como APA do Caledônia.
O Maciço da Caledônia além de seu pico principal, possui outros cumes com altitudes superiores a 2.000 e 2.100 metros, fazendo parte do trecho da Serra do Mar denominado de Serra da Boa Vista, divisor de águas entre a cidade de Nova Friburgo, a região rural de São Lourenço e a nascente do Rio Macacu.
Fonte: Ipatinga Cidade Jardim (José Augusto Moraes), www.euamoipatinga.com.br e http://www.jvaonline.com.br
VÍDEO: Pico da Caledônia - Nova Friburgo / RJ. Imagens da caminhada ao Pico da Caledônia (2.219 metros), com vista panorâmica do cume para toda a serra friburguense.
VÍDEO: Hospital Márcio Cunha - Ipatinga/MG
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