IPATINGA - Nasceu em Vila Isabel, Rio de Janeiro, no dia 28 de junho de 1935. Com dezoito anos, meio que “empurrado” pela avó (que, naquele tempo, já se mostrava assustada com a violência da cidade), embarcou em um vagão de trem para buscar novos horizontes de trabalho em Minas Gerais. Chegou a Coronel Fabriciano em 1953 e trabalhou na Cia. Acesita (hoje ArcelorMitral) por onze meses, de onde saiu para prestar serviços a uma empreiteira de propriedade do pioneiro João Azevedo, fundador da Pedreira Um / Valemix. Casou-se com Clara Veiga Rodrigues do Amaral, natural de Nova Lima, MG, em 1967. Da união do casal nasceram Paula (advogada) e Edson (médico).
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JORNALISMO
A incursão pela imprensa, através do jornal “Canaã”, aconteceu a partir de um convite do proprietário Wenceslau Martins Araújo, ex-topógrafo, então administrador da rede de cinemas da região, desde Timóteo até Ipatinga, para que o ajudasse a organizar “algumas coisas”. Com sistema de impressão plana e tipográfica, o jornal era todo composto a mão, letra a letra. Circulava uma vez por mês. Depois, passou a ser quinzenal e, por fim, semanal. Carioca foi convidado a trabalhar no jornal “A Verdade Impressa” e posteriormente tornou-se sócio do jornal “FLAN” (Fatos, Literatura e Notícias) até tornar-se enfim proprietário do jornal “Diário da Manhã”, o primeiro diário da região, que havia sido fundado por Antônio Brum (AGIPA Editora). O jornal tinha sua redação e oficinas localizado na Rua Belo Horizonte, centro de Ipatinga, em um imóvel alugado e de propriedade do pioneiro Walter Sales. Logo depois, o Diário da Manhã veio a funcionar por longos anos em sede própria no bairro Cidade Nobre, Ipatinga, diante da Escola Estadual Canuta Rosa. No início do “Diário da Manhã”, Carioca contou com o apoio do padre De Man, fundador da então Universidade do Trabalho, hoje Centro Universitário do Leste de Minas (Unileste – MG), que negociou com ele a compra de maquinário para as oficinas em troca de divulgação das atividades da escola. Sua vocação empreendedora combinada com a honestidade e transparência no trato com as pessoas, além de grande disposição para o trabalho, logo fizeram com que a empresa decolasse, ganhando confiabilidade pública. Mas, no início, as coisas não eram muito fáceis. Além de dono, Carioca fazia o papel de repórter e “entregador de jornais”. Nos deslocamentos diários pela BR-381 (ainda sem duplicação) entre Timóteo, Coronel Fabriciano e Ipatinga, controlava o volante do “fusquinha” com apenas uma das mãos, porque a outra, em um espaço de cem a duzentos metros, tinha que ser esticada para trás para pegar na pilha de jornais sobre o banco os exemplares dos vários assinantes espalhados ao longo do percurso.
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Algumas vezes (com um funcionário ao lado, colega de reportagem como testemunha), ele se irritava com os pedidos feitos por “filões” de jornais, que não se davam conta dos muitos sacrifícios exigidos para levar a edição às bancas diariamente. A bem-sucedida experiência em jornal impresso abriu as portas para Carioca trabalhar em rádios e TV da região, depois de vender o Diário da Manhã para o então diretor do Colégio John Wesley, Evaldo Fontes. Prestou serviços às rádios Educadora e Vanguarda e à TV Cultura Vale do Aço, apresentando programas esportivos diários. Um fato marcante durante sua trajetória foi a cobertura do conhecido Massacre de Ipatinga. “Cobri o fato com muito cuidado, pois estávamos em plena ditadura militar.”
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ENTREVISTA - José Rodrigues do Amaral "Carioca" relembra momentos épicos do futebol amador da região" - (Jornal Vale do Aço - Dezembro de 2011)
JVA – Como foi sua chegada ao Vale do Aço?
JOSÉ RODRIGUES DO AMARAL (CARIOCA) – Eu vim do Rio de Janeiro para cá em 1953 e, no ano seguinte, comecei a trabalhar na Companhia Acesita. Depois, passei a prestar serviços para o empreiteiro João Alves de Azevedo durante 10 anos.
JVA – E como surgiu o interesse pelo esporte?
CARIOCA – Isso já vinha do Rio. Quando eu cheguei aqui, com aproximadamente 18 anos, eu já passei a jogar futebol. Eu atuava no meio campo, naquela época era a chamada “linha média”, atualmente correspondente à posição de volante. O futebol era jogado com dois atrás, três na linha média e cinco na frente. O atacante sempre tinha a obrigação de voltar para armar, como era o famoso Zizinho, na Copa do Mundo de 1950, por nós, brasileiros, considerado o maior jogador do mundo naquele tempo. Então cheguei aqui, fui jogar no juvenil do Acesita e fiquei gostando do clube.
JVA – O que você presenciou no futebol do Vale do Aço quando aqui chegou?
CARIOCA – Era uma estrutura diferenciada do futebol amador. O amador vivia por suas próprias pernas. Não tinha sócio, não tinha renda, enfim, não tinha nada. Era apoiado pelo trabalho de abnegados e eu fui um deles. Havia clubes assim, como Vila Nova, Juventus, Industrial e Clube Atlético Funcionários. Eram diretores amadores que não ganhavam nada e tiravam dinheiro do bolso para investir nos times. A Acesita, à época, dava as áreas para a construção dos campos dos clubes. Nenhum deles tinha alambrado ou arquibancada. Eram simples terrenos onde eram colocadas duas traves e linhas e ali se praticava o futebol. Foi nessa época que ajudei a criar, junto com Euclides Diogo Sabará, Hélio Magnani, Kléber Barbosa e outros mais a Liga Acesitana de Futebol (LAF).
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JVA – Em que dias da semana havia maior movimentação esportiva?
CARIOCA – Os jogos eram quase sempre aos domingos, mas algumas partidas eram realizadas aos sábados. Sempre de dia porque nenhum campo tinha iluminação. O único campo que tinha refletores era o campo do Acesita. Mas esse clube tinha uma estrutura diferenciada.
JVA – Estrutura diferenciada em que sentido?
CARIOCA – O Acesita, no início da LAF, não participava do Campeonato Municipal. Na verdade, o clube representava a cidade em jogos no interior de Minas Gerais. Enfrentava o Democrata e o Pastoril de Governador Valadares, o Minas de Nova Era, o Valeriodoce de Itabira, o Caratinga e o América de Caratinga. Mais raramente, o time ia mais longe para enfrentar o Botafogo de Aimorés e o Siderúrgica de Sabará. Eu tive o prazer e a honra de ser Diretor de Futebol do Acesita Esporte Clube na época da presidência do Major Maurício Maggessi de Lima, a partir de 1961. O Acesita tinha até um jornal informativo naquela época, o que demonstra uma organização maior do clube.
JVA – Nesse tempo em que você acompanhou de perto o Acesita, vivenciou alguma situação engraçada?
CARIOCA – O Acesita jogava contra o Bangu, no antigo campo do clube perto da Praça 1º de Maio, e a partida estava 1 a 0 para o time do Vale do Aço. O presidente do clube era o Major Walter Rodrigues Lopes e eu estava sentado ao lado dele e do técnico do time, que era meu compadre, o ex-jogador Tobias. E o árbitro marcou um pênalti contra o Acesita. Eu tinha avisado para o Major Walter que o juiz iria aprontar alguma coisa. O nosso lateral tinha feito uma falta violentíssima em um jogador do Bangu e o árbitro, ao invés de marcar contra o Acesita, marcou contra a equipe do Rio de Janeiro. Aquilo me chamou a atenção porque o juiz estava “camarada” demais. Não demorou muito e o Moacir Bueno, que era um craque de bola, entrou na área do Acesita, se jogou e deu um grito. O juiz não pensou duas vezes e marcou pênalti. Nisso o Major Walter falou comigo que não ia deixar bater. Deu aquela confusão na hora da cobrança. Os “bate-paus” (seguranças da Companhia Acesita, uma vez que não havia polícia em Timóteo) entraram em campo. O juiz fez um acordo com o jogador do Bangu, Décio Recaman, para que ele, por cavalheirismo, batesse o pênalti para fora. Eu e o Major Walter desconfiamos daquilo e perguntamos o que aconteceria se a bola entrasse. O árbitro, que era um juiz de embaixada, disse que teria que assinalar o gol. Dessa forma, o Major Walter não deixou que a cobrança fosse feita e a partida terminou em 1 a 0.
JVA – O que era um juiz de embaixada?
CARIOCA – Juiz de embaixada era aquele que acompanhava o clube que estava fazendo uma excursão. Por exemplo, digamos que o Atlético fosse fazer uma excursão pelo interior de Minas Gerais para enfrentar Acesita, Social, Democrata e por aí vai. O Atlético trazia um juiz com ele.
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JVA – Houve mais algum caso curioso?
CARIOCA – Teve um jogo com Siderúrgica de Sabará, que foi campeão mineiro de 1964, e o Argental, que era presidente da Liga Acesitana de Futebol, apitava a partida. Ele deu um pênalti para o Acesita, que bateu e perdeu. O Argental mandou voltar alegando que o goleiro havia mexido. Um jogador do Siderúrgica reclamou e foi expulso. O Acesita bateu o pênalti outra vez. Aí o jogador do Siderúrgica pegou a bola, correu debochadamente e colocou-a na marca do pênalti dizendo “toma, bate outra vez pra ver se faz!”. O Argental teve que expulsar ele também e foi uma confusão danada. Foi mais um caso pitoresco no futebol aqui na região.
JVA – Como surgiu a vontade de atuar no jornalismo?
CARIOCA – Eu vim do Rio com essa tendência. Lá eu trabalhava no Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Industriários (IAPI) e tinha formado um time de futebol. Eu organizava partidas com outras autarquias e entidades. Sempre fazia um jornalzinho e pregava no quadro com os resultados. Quando eu cheguei aqui no Vale do Aço, sequer existia rádio ou jornal na região. Já no final da década de 1950, eu criei um serviço de alto-falante, que eu consegui, à época, junto com o Sindicato Metasita. Eu ligava os equipamentos, aos domingos, logo após as rodadas dos campeonatos, e fazia um balanço dos jogos. Quem lia o noticiário era o Benedito Pastor Drumond (Bené). E eu fazia uma crônica de crítica à LAF, com o nome “Ligando à Liga o que ela não liga”. Eram opiniões acerca da arbitragem, do estado dos gramados, da tabela. E a praça ficava cheia para as pessoas ouvirem, já que não havia jornal ou outro meio de comunicação na região.
JVA - O seu primeiro jornal escrito se chamava FLAN. Depois dele, você teve passagem por quais outros?
CARIOCA - Estive no Diário da Manhã, nas Rádios Vanguarda, Educadora, Itatiaia e na TV Cultura. Na Vanguarda, tinha um programa chamado “Terceiro Tempo”, comandado pelo Pedro Márcio Milanez, e eu era o comentarista. Já na Itatiaia, para o público mais recente, tinha um bate-papo na parte da manhã com o Luiz Omar e o saudoso Emiliano Magno, que também fazia muito sucesso.
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JVA – Como você avalia o momento do futebol profissional do Vale do Aço?
CARIOCA – Eu acho que houve uma paralisação em determinado tempo. Se as coisas seguissem normalmente, nós já deveríamos estar, pela força política e econômica da região, grandes equipes tradicionais. O entrave maior aconteceu no futebol amador, porque ele não progrediu. Sobre o profissional, o Ipatinga até hoje não conseguiu envolver a comunidade em torno do clube. O time tem torcida assim: se for jogar contra o Atlético, vão poucos torcedores ipatinguenses, de fato muito raros, apoiados pela torcida do Cruzeiro. E vice-versa. A torcida do Ipatinga mesmo, para lotar o estádio, não tem. Alguma coisa precisa ser feita. Se o Ipatinga tivesse uma área social com salão para baile e parque aquático, além de outras modalidades esportivas, como vôlei e basquete, talvez um grande quadro de sócios poderia se formar em torno do clube. Há um vício muito grande, porque se acostumou a viver, em Ipatinga, ou da Usiminas ou da Prefeitura. Legalmente, a Prefeitura não pode apoiar apenas uma entidade esportiva, porque tem que ajudar a todas. O poder público já fez o principal: construiu o estádio, que era Lamegão, por questões políticas passou a ser Ipatingão, e agora voltou a ser Lamegão. É preciso que a sociedade também faça sua parte e se mobilize em torno dessas ideias para que o Ipatinga passe a ser grande. E isso pode ser aplicado também em outros municípios, como Fabriciano e Timóteo. O futebol profissional é muito caro. Hoje em dia, qualquer um que dá um bico na bola acha que é craque e quer ganhar muito dinheiro.
JVA – Por falar em futebol profissional, acredita no título do seu Vasco da Gama no Brasileirão deste ano?
CARIOCA – Eu acho que não. O Corinthians não deve deixar escapar. Eu disse que “acho”, porque no futebol tudo pode acontecer. O Palmeiras não está muito bem das pernas e a motivação de dizer que vai tirar o título do Corinthians não pode ser maior que a motivação do time corintiano de ser campeão. No jogo entre Vasco e Flamengo não há favoritismo. O Vasco está melhor no momento, mas ninguém pode garantir nada. O Corinthians joga pelo empate para ser campeão. Mas eu também não sou torcedor do Vasco atual, mas sou da época em que o elenco vascaíno era o melhor do mundo, isso nas décadas de 1940 e 1950.
JVA – Que recado você deixa para aquelas pessoas que acompanharam seu trabalho e, de certa maneira, sentem falta dos seus comentários?
CARIOCA – Eu fico muito agradecido àqueles que me honraram com a audiência, mas trabalhar, agora, é complicado porque a saúde não está mais em plena forma. E quero dizer também que sinto saudades de todas essas pessoas que conheci no mundo.
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Fonte: Ipatinga Cidade Jardim e Jornal Vale do Aço (www.jvonline.com.br)
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